no cotidiano. Geralmente, são em situações atípicas onde o proprietário abre algumas garrafas de safras variadas e antigas em deferência aos visitantes.

Ao visitarmos a vinícola DON LAURINDO, fomos agraciados pelo proprietário e enólogo Ademir Brandelli com uma
degustação vertical de 4 safras de vinhos Tannat por ele produzidos. Uma oportunidade raríssima, para poucos.

Ademir Brandelli e Horacio
Ele nos levou até sua ”adega cofre” onde guarda alguns exemplares de safras anteriores, e escolheu misteriosamente quatro vinhos para degustarmos: um Tannat de 1995, safra de ouro para os viticultores do Vale dos Vinhedos, e um de Tannat de 1997. Da adega de varejo, escolheu outros Tannat das safras de 2005 e 2007, que por coincidência se diferenciavam por 10 anos dos mais antigos.

Cofre de safras antigas

Chave do cofre
- Cuidadosamente, as duas garrafas mais antigas foram abertas, já mostrando início de coloração ocre até a metade da rolha, mas ainda inteira. Não foi necessário utilizar o saca-rolha especialtipo pinça. Em seguida os outros dois foram abertos e perfilados.
Minha curiosidade estava latente.
Será que os vinhos de 95 e 97 ainda estão vivos? Muito tempo para um vinho brasileiro.
Ademir explicou que os vinhos de 95 e 97 não passaram no barril de carvalho e o rendimento utilizado foi alto:
20.000 kg por hectare e os outros dois em torno de 5.000. Não foram elaborados pensando em longevidade.
Degustação:
01 Vinho Tannat da safra de 1995
O vinho velho conta história. À medida que ele vai evoluindo, ele vai falando por si só. Ele me disse: “Estou com minha cor já bastante atijolada, aparentando meus 20 anos. Mas tenho muito que mostrar. Tenha paciência. Deguste vagarosamente. Feche os olhos e sinta os aromas secos, aromas de terra. não pense em encontrar muito volume de boca, muito corpo, muito extrato. Veja como e porque consegui viver duas décadas”.
02 Vinho Tannat da safra de 1997
A Cor do 97 está mostrando sinais de evolução mais rápida do que o de 95. Ademir comentou que a safra de 95 foi
excepcional, talvez esta seja a explicação. Na boca o vinho ainda estava vivo, perdeu todo seu aroma de fruta e apresentou aromas de passas secas, algo de feno.
Perguntei ao Ademir o que ele acha de decantar vinhos. Ele prontamente disse: Sou contra. Perguntei-lhe: Mas e as borras comum nos vinhos velhos? “Não tenham pressa, Horácio, Pedro e Natália, vamos esperar ele conversar com a gente. Temos todo esse tempo. No Decanter o choque de oxigênio é forte e o vinho mostrr muito rápido todo o seu mistério que ficou aprisionado na garrafa”.
03 Vinho Tannat da safra de 2005
Já havia degustado este vinho há algum”tempo. Minha curiosidade aumentou. Queria ver como ele se encontrava agora pois
a safra de 2005 foi superior à de 95. Sua cor era violácea, opaca. Ainda muito vivo. No nariz, aromas intensos de chocolate. A acidez ainda estava bastante viva e uma carga tânica de mastigar o vinho. Após 30 minutos, o fundo do copo estava repleto de aromas defumados e geléia de ameixa preta. Que complexidade.
04 Vinho Tannat da safra de 2007
Cor semelhante ao de 2005. No começo estava bastante fechado. Esperamos cerca de 10 minutos para abrir e encontramos aromas intensos de fruta negra. Na boca, taninos macios, domados, maduros e elegantes. Grande corpo. Retrogosto longo.
Que bela degustação vertical! Inesquecível.
Ademir foi buscar outra jóia: O Vinho comemorativo de 20 Anos da vinicola ede 80 anos de Laurindo, seu pai, ainda
vivo. Longevidade como seus vinhos.
Foram elaborados somente 2600 garrafas da safra de 2008. A curiosidade é que Ademir fez o vinho escondido do seu pai. Ele e sua equipe escolheram a dedo cada cacho, cada bago, e vinificaram tudo junto: Tannat, Cabernet Sauvignon, Merlot, Ancelotta e Malber. Um corte de 5 uvas. No dia do aniversário de seu velho todos os empregados colaboradores da vinicola foram ao restaurante Mama Gema. Cada colaborador foi brindado com um exemplar. Seu pai ficou sabendo somente neste dia.
Vinho potente, com alta carga tânica. Taninos ainda por evoluir, mas já mostrando todo seu potencial e muitos
anos por envelhecer para acompanhar a longevidade de Laurindo.
Retornamos a nossa degustação vertical e cheiramos novamente as quatro taças – análise de fundo de copo. Eram
outros vinhos: eles evoluíram mostrando mais complexidade.
Uma manhã inesquecível.

Ademir presenteou Natalia com uma safra antiga de um Merlot
4 Comentários. Deixe novo
Fantástica visita! Lendo o texo me senti degustando os vinhos!!! Muito bom! Abraço!
Corrija-me se ou acrescentem ao comentário:
Aprecio, degustar o Tannat, principalemte com carnes vermelhas, com bom teor de gordura. A sua acidez dá o toque diferencial no paladar.
Porém pelo comentário feito na degustação as safras 95/97, perderam essas características. Concluindo então que o seu envelhecimento não adicionam características favoráveis.
Abraços
Mário Cesar
Prezado Mário
Pertinente sua observação. Realmente os vinhos elaborados com a casta Tannat (alta tanicidade) ficam melhores quando se harmoniza com carnes vermelhas. Ataca a proteína da carne primeiro do que as gengivas. Entretanto, quando se faz uma degustação vertical e os vinhos são mais “velhos” os taninos vão ficando mais domados. Neste caso, mude a harmonização para um prato mais sofesticado. Esse é o mundo do vinho…Sem matemática, sem regras rígidas. Cada caso, um caso…
Que vontade que deu de degustar esses vinhos! To amando aprender mais sobre eles.