O sonho de todo enófilo ou amante do vinho é degustar os vinhos mágicos da mais importante região vinícola do mundo, Bordeaux, França.
Não somente os vinhedos, mas toda a arquitetura dos prédios de Bordeaux, contam com uma história milenar, que teve seu inicio com pequenas plantações de uvas pelos romanos.
A viticultura atual de Bordeaux é um grande negócio em torno do vinho, com 7.500 viticultores, 300 casas de negócio do vinho, 93 corretores de vinhos, 40 cooperativas, gerando 55.000 empregos. São 110.000 hectares de vinhedos que proporcionam diversos estilos de vinhos.
Compreender e decifrar os rótulos dos vinhos de Bordeaux é uma tarefa árdua e de certa complexidade, mesmo para os enófilos que estudam e estão por dentro do mundo do vinho.
É necessário ter conhecimento da legislação francesa e da classificação imposta em 1885, para que o leitor possa conhecer e comprar com segurança os milhares de vinhos provenientes desta região.
Mas, antes de entrarmos em detalhes da legislação específica para os vinhos de Bordeaux é muito importante um conhecimento amplo das sub-regiões e comunas de Bordeaux, cujos micros-climas, diferentes solos geram vinhos com estilos diferentes.
A grande divisão começa com as vinícolas localizadas na margem esquerda do Rio Garonne/Gironde e os da margem direita. Nos vinhedos da margem esquerda a tendência é para vinhos em corte de Cabernet Sauvignon, (em maior proporção), com a Merlot e Cabernet Franc, podendo participar com percentual baixo outras tintas como a Malbec, Carmenèré e a Petit Verdot, comumente chamado de “corte bordalês”. Já para os vinhos da margem direita a tendência é maior participação da Merlot no corte com outras tintas.
Na margem esquerda as principais sub-regiões são: Médoc, Haut Médoc, Pessac-Leognam, Graves e Sauternes. Na margem direita destaque para Saint-Emilion, Pomerol, Fronsac, Lalande Pomerol e outras como Côtes de Blaye, Côtes de Bourg e Côtes de Franc.
Antes de entrarmos em detalhe dos níveis de categorias dos vinhos de Bordeaux é importante conhecer as divisões das classificações dos vinhos da França, os quais são divididos em três níveis: Vin de Table (vinho de mesa), Vin de Pay (vinho do país) e AOC (Apellation d`Origine Controlée).
Vin de Table são vinhos da categoria mais simples, que podem ser produzidos em qualquer parte da França, sem a necessidade de obedecer as exigências rigorosas da legislação francesa. No rótulo não pode aparecer o nome e endereço do produtor se se estabelecido em região oficialmente demarcada.
Vin de Pays são vinhos de qualidade um pouco superior ã categoria anterior. Podem inserir no rótulo a região de produção ou zona o departamento. Por exemplo: Vin de Pays du Jardin de France (Loire). Esses vinhos são encontrados em muitos bristôs e bares de Vin e facilmente encontrados servidos em taças durante as refeições francesas.
Vin d`Appellation d`Origine Controlée: Esta categoria é a mais importante e é conhecida como AOC. Nesta categoria estão incluídos os grandes vinhos da França, bem como os intermediários e ou mesmo os genéricos (simples). Ai, que começa a confusão e a dificuldade para os leigos nas gondolas dos supermercados ou de lojas especializadas. Para estar inserido dentro desta categoria os viticultores são obrigados a seguir várias regras tais como: sistema de condução das parreiras, método de vinificação, cepas (uvas) permitidas em cada região vitivinícola francesa, produção por hectare e comprovação do vinho por uma comissão de degustação.
O sistema AOC vale para muitas regiões vinícolas da França. Mas, cada uma tem suas regras e particularidades. Além, dentro desta categoria estão inseridos os excepcionais vinhos, os ótimos e regulares vinhos e até mesmo vinhos de pouca qualidade, gerando mais confusão para o comprador leigo.
Para completar o quadro confuso em algumas regiões vinícolas da França existe dentro desta categoria AOC uma hierarquia própria onde pode aparecer no rótulo os termos “Cru”, “Grand Cru”, “Premier Cru” e “Premier Grand Cru Classé”. O termo “Cru” vem do verbo “”croitre” (crescer, desenvolver) – o vinho criado em um determinado vinhedo. Entretanto, outras interpretações surgem como que separando os vinhedos (terroir) e níveis de categoria, de acordo com cada tipo de solo, clima e topografia, etc. Outros sugerem que o termo “cru” significa a “alma do vinhateiro”. E objetivando ordenar um pouco esta confusão de vinhos de níveis de qualidades bastante diferentes dentro de uma mesma categoria AOC, esta categoria foi sub-dividida em três: Genérico, Sub-regional e Comunal.
Genérico: Quando o vinho é produzido em qualquer parte da região de Bordeaux e sem a necessidade de identificar no rótulo a origem do vinhedo. No rótulo da garrafa está inserido o termo: “Appellation Bordeaux Controlée”, (Bordeaux em substituição a palavra Origine).São vinhos de qualidade razoável e são sub-divididos em Bordeaux e Bordeaux Superiuer (um pouco mais complexo do que o anterior).
Sub-regional: Quando o vinho é produzido dentro de uma sub-região. No rótulo pode aparecer o termo: “Appellation Haut-Médoc Controlée”, (Haut-Médoc em substituição a palavra Origine).
Comunal: Quando o vinho é produzido em uma determinada comuna, por exemplo: “Appellation Saint-Julien Controlée”, (comuna de Saint-Julien em substituição a palavra Origine).
Como regra geral podemos considerar que quanto mais específica for à indicação do local de produção, (no lugar da palavra Origine) maior a chance de se comprar um vinho de qualidade superior. E se tiver a palavra “Cru”, existe grande possibilidade de ser um grande vinho, logicamente o preço também é elevado.
Em resumo: para os vinhos elaborados na categoria AOC, o macete é verificar o que está escrito no lugar da palavra “Origine”. Quanto mais especifico; sinalização de qualidade superior.
Para complicar ainda mais o quadro, em 1885, foi realizada uma classificação por categoria de qualidade dos vinhos de Bordeaux, a pedido de Napoleão III, a fim de representarem a França em uma importante exposição de vinhos na Europa. Foram listados 61 vinhos “crus” divididos em cinco níveis: Premier Gran Cru Classée (5 Châteaux), Deuxième Gran Cru Classée (14 Châteaux), Troisième Gran Cru Classée (14 Châteaux), Quatrième Gran Cru Classée(10 Châteaux) e Cinquième Gran Cru Classée (18 Châteaux).
Em Médoc, existêm duas apelações sub-regionais: Médoc e Haut-Médoc, e seis apelações municipais: Margaux , Listrac, Moulis, Saint-Julien, Pauillac e Saint-Estèphe.
Degustação Mágica:
Em uma tarde fria, no centro da cidade de Bordeaux, fizemos uma degustação histórica, ápice de nossa viagem, na espetacular e magnífica loja Max Bordeaux Galery & Cellar, (www.maxbordeaux.com) na rua Cours de Indentance, numero 14.
Proposta de servir vinhos mágicos em taças.
Uma honra estar aqui e conhecer um serviço inexistente em qualquer loja do mundo: servir em taças (via máquina pressurizada) os maiores e melhores vinhos do mundo; franceses do mais alto nível incluindo os 6 Prèmiere Grand Cru Classè, cantados em verso e prosa pelos livros didáticos, guias, críticos e enófilos. E neste dia, estávamos radiantes diante de seis taças de vinhos perfiladas, seis generais de seis estrelas. Seis dos mais importantes vinhos do mundo. Seis Premier Grand Cru Cassé. Seis tintos mágicos:Château Latour, Château Margaux, Château Haut-Brion, Château Mouton Rothschild, (margem esquerda) e Château Pavie, Château Cheval Blanc, (margem direita).
Fizemos quase um minuto de silêncio em homenagem a este momento mágico e importante de nossa viagem, glorificando tal oportunidade. Glorificando mais um objetivo conseguido em nossa maratona de degustação de vinhos pelo mundo. Lágrimas, “viscosas” surgiram nos olhos de papai. Emocionado, papai decidiu não comentar os vinhos. Seria uma petulância fazer
uma análise organoléptica e dar notas nestes “cavalos de puro sangue”. Vinhos que não merecem receber notas. Eles estão acima da análise dos mortais.
Após a degustação, Leagh Barkley, sommelier da casa explicou a filosofia da casa de criar esta oportunidade rara de degustar os melhores vinhos do mundo em máquinas de servir vinhos em taça, (geralmente este tipo de máquina é utilizado em restaurantes para servir vinhos mais simples, vinhos para o dia a dia). A proposta é interessante e econômica, pois o preço médio, de cada garrafa é superior a 600 Euros. E, servido em taça, cada 20 ml de um destes vinhos custa 25 Euros (caro mas de excelente custo qualidade). O cliente compra um cartão eletrônico e vai perambulando pelas 6 máquinas (36 vinhos excepcionais) passando o cartão para cada taça servida. É uma proposta que deveria ser copiada pelas lojas brasileiras. É uma oportunidade rara dos enófilos degustarem vinhos excepcionais, a 25 Euros por taça de 20 ml cada. Caro mas que vale o sonho…