A intrigante inclinação da Torre de Pisa
Após duas semanas na Toscana fugimos de nossa rota dos vinhos e fomos visitar a internacional turística cidade de Pisa, cujo habitante mais famoso é nada menos do que Galileu Galilei. A curiosidade era grande para conhecer a inclinada Torre de Pisa, cantada em verso e prosa pelo mundo. Estacionamos o motorhome em uma grande área destinada às centenas de ônibus de turismo e montamos em nossa bicicleta, rumo ao monumento mais famoso do mundo.



O principal fator de sua inclinação se deva ao fato do local escolhido para sua edificação. Acredita-se que existia um mar próximo e o terreno possui grau extremamente baixo de compactação.


A Torre começou a ser construída, em 1174, com o objetivo de abrigar o sino da catedral de Pisa e somente foi finalizada 156 anos após, tendo 56 m de altura. Ela começou a se inclinar quando três dos oito andares já estavam prontos. Os engenheiros tentaram endireitar a inclinação construindo os andares um pouco maiores do lado mais baixo. Mas, esta medida não deu certo e acabou prejudicando ainda mais a construção, porque aumentou a instabilidade com o excesso do peso.


Em 1838, uma obra de restauração atingiu um lençol freático e inundou toda a base da Torre de Pisa. Um século depois, o ditador, Benito Mussolini, ordenou que aplicações de cimento fossem inseridas junto ao alicerce, entretanto, o monumento acabou torto do mesmo jeito.
Na década de 1990, uma grande reforma foi realizada para que o monumento não viesse a cair, que envolveu o apresamento de cabos de aço ao redor da torre. Com uma distância de quase um quarteirão, esses cabos eram ligados a um grande contrapeso que conferia estabilidade à torre enquanto ela era reparada. Além disso, várias placas de chumbo foram colocadas na parte oposta da inclinação.

Em uma segunda fase foram retiradas através de grandes brocas toneladas de terra da parte mais alta da base. A extração de toda essa terra criou um grande espaço vazio na região oposta da inclinação. Na medida em que os cabos foram soltos e os pesos retirados, o próprio peso da Torre de Pisa realizou-se uma reacomodação que diminuiu o aspecto inclinado em meio grau. Ainda bem que a engenharia não resolveu o assunto, pois o charme é ver este monumento inclinado.

O império de Antinori
A tradicional família Antinori inaugurou em 25 de outubro de 2012, nas terras de Chianti Clássico, sua mais espetacular vinícola. Um projeto arrojado, com investimento superior a 100 milhões de Euros. Os Antinori, proprietários da Tenuta Pèppoli, Tenuta Tignanello e Tenuta Badia a Passignano partiram para este novo projeto, que é uma obra arquitetônica majestosa preparada para receber centenas de enoturístas por dia.


Foram 7 anos de projeto sem provocar impacto ambiental, buscando integrar os materiais utilizados na construção, aço, madeira e pedras. Em uma harmonia idêntica a linha de produtos deste famoso nome da viticultura italiana, Antinori, um dos percursores dos vinhos Super-Toscanos com o tinto Tignanello assombrou o mundo.
A visita foi iniciada com uma apresentação de um vídeo institucional em uma sala-cinema, luxuosa e confortável. Os vinhedos são novos e ainda sem entrar na fase produtiva, com foco em criar um grande Chianti.

Recentemente foram plantados Canaiolo, Ciliegiolo, Colorino, Malvasia Nera, Mammolo e uma pequena parcela de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc.

No projeto foi adotada a tecnologia moderna de processo de vinificação por gravidade, prática que traduz em poucas trasfegas do mosto e do vinho. Apesar da alta capacidade instalada, seus tanques de fermentação são pequenos que possibilitará a vinificação por parcelas.




Além da sala de barricas, em uma arquiterura impecável, existe uma outra sala de pequenas barricas para a elaboração do Vin Santo, (elaborado com a Trebbiano e Malvasia). Nas dependências estão instalados um Museu e uma galeria de arte. Complementando o projeto a vinícola também tem uma ala de produção de azeites especiais.


Degustação na Antinori:

01:Badia a Passignano 2008
Um tinto profundo, de cor granada, espesso. No nariz aromas de chocolate e couro, complexo. Na boca, macio, taninos maduros, complexo. Retrogosto longo.Vinho magistral, 90 pontos
02:Tignanello 2010
Um grande vinho Super Toscano, em corte de Sangiovese, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, de cor vermelha puxando para o rubi. Elegante, sofisticado, complexo, mágico. Vinho de degustar de joelhos. Excepcional. 95 pontos.
03:Guado al Tasso 2009
Um corte bordalês, proveniente da zona de Bolgheri, famosa pelos seus Super Toscanos, com 60% de Cabernet Sauvignon, 25% de Merlot, 12% de Cabernert Franc e 3% de Petit Verdot se apresentou de cor quase negra. No nariz, aromas intensos de couros passando por pimenta negra de excelente qualidade. Na boca, de bom corpo, complexo, macio, elegante, fino. Excelente. 93 pontos.
04:Solaia 2009
Silêncio e concentração para meditar diante de um dos maiores vinhos do mundo. Este Solaia de Cabernet Sauvignon se apresentou com cor rubí. Nariz intenso de noz moscada e couro. Na boca, mágico, de morder, de sonhar. Complexo. Maravilhoso. Retrogosto longo. Excepcional. 98 pontos.
Siena x Florença
Nos intervalos das visitas às vinícolas da Toscana, fizemos turismo nas duas principais cidades da rota de vinhos da Toscana: Siena e Florença, eternos rivais, presentes em lados opostos nas guerras entre guelfos e ghibelinos.

Siena é uma bela cidade medieval. Em sua atmosfera emanam aromas de vinhos e ares de ódio de sua vizinha rival, a próspera e rica Florença.
É fácil perder entre os labirintos e emaranhados de ruazinhas tortuosas de Siena até chegar na charmosa e magnifica Piazza del Campo, onde a Torre del Mangia, (campanário) se sobressaí em uma bela arquitetura do século XIV. O formato desta praça lembra uma concha e é circulada por palácios e torres e casas medievais.


Circulamos pela Piazza del Duomo com sua catedral, rosada, edificada no século I. Diferentemente de muitas catedrais europeias esta de Siena se sobressai pelo revestimento de mármore rosado em uma fachada gótica projetada por Giovanni Pisano.



Já a capital da Toscana, Florença apresenta mais vida, mais turistas internacionais e muita arte. É o berço do Renascimento italiano e uma das cidades mais belas do mundo, que cresceu respirando arte e arquitetura, com inúmeras obras financiadas pela família Médici, proprietária de bancos, que contrataram artistas do Renascimento como Michelangelo, Leonardo Vinci, Giotto, Botticelli, Rafael Sanzio e Donatello.De bicicleta percorremos a margem do Rio Arno, sobre o qual ainda preservam pontes ancestrais, com mais de 2000 anos.

Passamos pelo Museu da Ópera, Palácio Pitti e a capela dos Médici. Perdemos pelas ruas de Florença. Mas, não importa: a cada passo um monumento espetacular, praças charmosas e românticas repletas de esculturas. De repente, surgem a Catedral de Santa Maria dei Fiore, revestida com mármores esverdeado, branco e rosado, um dos principais cartões postais desta cidade.


Ao lado, outra construção, chamada de Batistério, construída para os pagãos, que não podiam entrar na igreja, para serem batizados. A porta de entrada do Batistério chamada de “As Portas do Paraíso” é de bronze e o trabalho encravado foi realizado no período renascentista por Ghiberti, discípulo de Michelangelo é magnífico.


Caminhamos mais e atingimos a Piazza dela Signoria, onde uma escultura gigante de Davi, de Michelângelo se destaca.


Mas a rivalidade termina nos vinhedos, cada zona apresentando uma característica diferente de estilo de Chiantis, sem vencedores…
Frescobaldi
Chegamos no dia anterior agendado para nossa visita a esta famosa e amplamente vinícola conhecida dos brasileiros, amantes do vinho pela excepcional qualidade de sua linha de produção. No ano de 1300 a tradicional família Frescobaldi, endinheirada, oriunda do sistema bancário de Florença, entrou no negócio de vinhos. Mas antes a família participou financiando ou contratando artistas renascentistas, como Donatello e Michelozzo Michelozzi para realizar obras em Florença.

Despertamos ao lado dos vinhedos de Merlot, da Vínicola di Casteligiocondo, às 10:30 horas e após um café reforçado, iniciamos nossa visita.



Inovadores, foram os primeiros a plantar Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir e Chardonnay, na região da Toscana nos vinhedos de Nipozzano e Pomino. Suas propriedades foram acumulando durante a dinastia desta família, tendo atualmente 6 vinícolas: Castello di Nipozanno, Castello di Pomino, ambas na zona este de Florença, Tenuta di Castelgiocond (sudoeste da cidade de Montalcino), Tenuta di Castiglioni (sudoeste de Florença) e Tenuta Dell Ammiraglia, na zona de Maremma.
Degustação na Frescobaldi:


01: Pomino Bianco – 2012
Este vinho branco, em corte de Chardonnay e Pinot Bianco de uvas provenientes dos vinhedos da Finca de Pomino, norte de Florença, passou 4 meses em cubas de aço e se apresentou com cor amarelo, forte. Viscoso. Aromas intensos e complexos de abacaxi. Na boca, de grande corpo, fresco, complexo, macio e elegante. Retrogosto longo. Muito bom. 89 pontos.
02:Castiglioni Chianti 2010
Este Chianti elaborado em corte com a tradicional Sangiovese (90%) e restante de Merlot mostrou no visual cor violeta. Viscoso, com boa estrutura. No nariz, aromas de intensidade média remetendo a violeta. Na boca, macio, de corpo médio. Bem elaborado. Muito bom. 88 pontos.
03:Nipozzano Chianti Rufina Riserva 2009
As uvas tintas proveniente deste Chiante vem de um vinhedo localizado a 30 km ao norte de Florença. Em corte de 90% de Sangiovese e restantes com as uvas Malvasia Nero e Cabernet Franc passou 2 anos em barricas de primeiro e segundo uso. Apresentou-se com cor violenta, profunda, escura. Viscosidade elevada, mostrando estrutura. Aromas de intensidade alta e de ótima qualidade remetendo a frutas negras. Na boca, macio, de grande corpo, macio, aveludado. Retrogosto longo. Excelente. 90 pontos.
04:Brunello di Montalcino Castel Giacondo 2008
Elaborado com 100% de Sangiovese passou 2 anos e meio em barricas. De cor granada. Viscosidade média. No nariz, de grande corpo, macio, complexo. Retrogosto longo. Excelente. 93 pontos.
Barbi
A vinícola Fattoria dei Barbi fica em Montalcino e fomos recebidos pela simpática Raffaela Guide que percorreu conosco as dependências desta importante e internacional produtora de vinhos Brunello, que exporta vinhos desde 1817.



Dentro das instalações tem um museu interessante que mostra a evolução das técnicas de vinificação dos vinhos Brunellos. Também mostram gráficos históricos de crescimento das áreas destinadas a elaborar este vinho, que passou de 2077 hectares no ano de 1967 para 79.440 hectares, em 2009, crescimento de 3725%.



Degustação na Fattoria dei Barbi:
01: Brusco dei Barbi – IGT – 2010
Este vinho não passa em barris de madeira, somente em reservatórios de aço inoxidável, com proposta de apresentar um vinho com frescor, fruta e jovialidade. Elaborado com um corte de Sangiovese e Canaiolo.
De cor rubi, transparente. Viscosidade média. Nariz de intensidade média. Aromas frescos de violeta. Na boca, de corpo leve, macio, equilibrado. Simples, para o dia a dia. Vinho bem elaborado, ideal para harmonizar com uma pizza a pomodoro. 83 pontos,
02: Morellino dei Barbi – DOCG – 2011
Este vinho elaborado com uva da região de Marema, norte da Toscana, novo Eldorado, em corte com 85% de Sangiovese e 15% de Merlot mostrou uma cor rubi clara. No nariz, aromas leves de cereja. Na boca, de corpo leve, macio, delicado. Retrogosto curto. Bom vinho. 84 pontos.
03: Rosso di Montalcino – 2010
De cor rubi clara, elaborado com 100% de Sanviosese, de viscosidade média. No nariz, aromas leves de cereja. Na boca, taninos verdes que compromete o conjunto, deixando leve amargor no final. Retrogosto curto. Vinho fraco. 79 pontos.
04:Brunello 2008
Este vinho ficou 3 anos em “Bota” (grandes barris de madeira) e 3 meses em garrafa. De cor rubi. Viscoso. Aromas delicados de cereja e flor violeta. Na boca, de corpo leve, elegante, macio, boa acidez. Retrogosto médio. Muito bom. 87 pontos.
05: Brunello Vigna Del Fiore – 2007
De cor rubi, um pouco escura. Viscosidade média. Aromas elegantes de cereja e bosque. Na boca, de corpo médio, leve amargor no final. Taninos por evoluírem. De corpo médio. Retrogosto médio. Muito bom. 81 pontos. Esperava mais deste vinho.
06: Brunello – Riserva – 2007
De cor granada. Viscosidade média. Aromas de intensidade média, com leve cereja. Na boca, macio, delicado, de corpo leve. Boa acidez. Complexo, depois de minutos mostrou couro e baunilha. Retrogosto longo. Muito bom. 89 pontos.








