A região vinícola do Douro situa-se no nordeste de Portugal, estendendo-se pelo vale do rio Douro desde Vila Nova de Gaia e a cidade de Porto, até a fronteira com a Espanha. É a mais antiga região vinícola demarcada do mundo, promulgada em 1756 pelo Marquês de Pombal, e conhecida pela notável qualidade dos seus vinhos do Porto (vinhos fortificados variam de 19 a 22% G.L), bem como dos seus tintos tranquilos, com máximo de 15% teor alcoólico, encorpados, com aromas complexos, elegantes e longevos.
O vinho do Porto é o mais famoso e melhor vinho fortificado do mundo. Imitado por alguns países, mas nunca igualado. Já os vinhos tranquilos desta região estão começando a assombrar o mundo, com excelentes exemplares.
Na cidade de Vila Nova de Gaia, vizinha à cidade do Porto, situam-se grandes galpões para a mescla dos vinhos, dormência, e em seguida exportação. Os vinhedos na verdade, ficam a 100 km destas duas cidades.
A Região de Douro é dominada pelas montanhas, em cujas ladeiras crescem as melhores castas para a elaboração dos mais finos vinhos fortificados do mundo. As vinhas do Douro criam uma paisagem magnífica reconhecida pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade desde 2001, carinhosamente chamada de: “Alto Douro Vinhateiro – paisagem cultural, evolutiva e viva”.
Nesta magnífica paisagem com vinhedos plantados em solos xistosos, ultrapassando a inclinação de 60 graus, rumo ao céu, destacam-se 6 uvas tintas que geralmente estão presentes nos vinhos do Porto: Touriga Nacional, Tinta Roriz (mesma que Tempranillo na Espanha), Touriga Francesa, Tinto Cão, Tinta Amarela e Sausão. Estas castas também são aproveitadas para a elaboração dos vinhos tintos secos tranquilos (não fortificados), tanto em corte como varietal.
História:
No século XVI os britânicos consumidores dos vinhos de Bordeaux, descobriram os grandes vinhos de Douro, devido ao embargo comercial ocorrido durante a guerra França-Inglaterra, convertendo-se assim no maior país importador de vinhos desta região.
Em virtude disto, naquela época surgiram os grandes comerciantes britânicos, que passaram a investir fortemente nesta região. Portanto, não é de se estranhar os muitos nomes das vinícolas em inglês, tais como, Taylor, Burmester, Churchill, Cockburn, Dow,Graham, Smith Woodhouse, Warre e outros que concorrem no mercado internacional com outras marcas lusitanas (Ferreira, Ramos Pinto, Quinta do Tedo, Fonseca Guimarães, Quinta da Pacheca, Quinta do Vallado, Quinta do Noval, Quinta do Vesúvio e outras). Naquela época, durante a guerra entre ingleses e franceses, os vinhos do Douro comprados pelos ingleses, eram secos. Entretanto, estes vinhos não suportavam bem as viagens marítimas até a Inglaterra, e se oxidavam. Várias soluções foram tentadas até que dois ingleses adicionaram aguardente nos vinhos, conseguindo assim mantê-lo vivo até o fim da viagem.
Descobriram que esta técnica não somente preservava o vinho como também lhe conferia excelentes qualidades, tornando-se um vinho único no mundo.Após o gosto e aroma adocicado ter caído nas graças dos ingleses, o processo foi se aperfeiçoado. Portanto, o vinho do Porto é único e diferente dos vinhos tranquilos (até 15 graus). Ele é único porque a fermentação alcoólica (transformação do açúcar da uva em alcoól) é interrompida no segundo ou terceiro dia, pela adição de aguardente vinícola (teor alcoólico de 40 graus) na proporção de 1 litro de aguardente para 4 litros de mosto.
A interrupção do processo de fermentação ocorre porque o aguardente mata as leveduras, responsáveis pelo inicio da fermentação. Em virtude disto, no mosto permanece alto nível de açúcar residual. Consequentemente, o vinho do porto é doce, mas não enjoativo pois os seus 20 graus de teor de alcóol final faz o equilibrio.
Em termos de doçura, o vinho do Porto pode ir do muito doce até um pouco mais seco, condicionada pelo momento da adição do aguardente ou seja do momento da interrupção da fermentação alcoólica. Quanto mais cedo for introduzido o aguardente maior é o teor de açúcar final no vinho do Porto.
Curiosamente este processo é elaborado próximo aos vinhedos das cidades de Peso da Régua e Pinhão e são posteriormente conduzidos para a cidade de Vila Nova de Gaia, (junto ao Oceano Atlântico) onde ocorre o lento envelhecimento dos vinhos nos tonéis de carvalho de capacidade de 225 litros, ou nas chamadas pipas com capacidade de 550 litros ou em balsâmicos com capacidade em torno de 33.000 litros ou em tonel de 10.000 litros, nas úmidas e frias bodegas de Vila Nova de Gaia, do outro lado do rio em frente à cidade de Porto, na foz do Rio Douro. Isto se justifica porque a temperatura média no Douro é muito elevada para a dormência dos vinhos durante longo período, diferentemente do clima em Gaia, mais fresco e frio e de pouca variação de temperatura durante todo o ano.
Antigamente os vinhos eram transportados das vinícolas pelo rio Douro, em pequenas embarcações lotadas de barris. Atualmente, os vinhos são transportados em caminhões com tanques de aço inoxidável.
A região demarcado do Douro e Porto começa à 100 quilômetros a leste da cidade do Porto e estende-se até a fronteira espanhola.
Esta região, divide-se em três sub-regiões – Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior.
A sub-região do Baixo Corgo, a parte mais ocidental, fica a oeste da cidade de Régua e cerca de 10 km sentido cidade de Pinhão, em montanhas inclinadas até 30 graus, em solo não muito profundos, com precipitação pluvial de cerca de 100 mm por ano, tornando a plantação mais fácil e a produção relativamente abundante do que no Cima Corgo. Seu clima é um pouco mais ameno.Responde hoje por cerca de 50% da produção total.
A sub-região, Cima Corgo ou parte central, se estende para o leste do rio Corgo até uma garganta chamada Cachão da Valeira. Os vinhedos sobem pelas montanhas com inclinação de mais de 60 graus.
Nesta sub-região estão os principais produtores do vinho do Porto, em propriedades chamadas “Quintas”, em torno da cidade de Pinhão, coração desta região, que responde por cerca de 36% da produção de Vinho do Porto, quase sempre de grande qualidade. Seu clima é um pouco mais quente do que Baixo Corgo.
Finalmente, temos a terceira sub-região, o Douro Superior, que se estende desde o Cachão da Valeira até a fronteira com a Espanha, onde as encostas não são tão íngremes. É uma zona árida e de clima temperado e responde com 13% do Vinho do Porto produzido.
O solo do Douro é dominado por duras pedras de xisto, formando um oásis, cercado de granito por todos os lados. Embora particularmente difíceis de trabalhar, estes solos são benéficos para a longevidade das vinhas e permitem mostos concentrados de açúcar e cor. É um milagre cultivar e colher uvas nestas terrazas com inclinaçôes entre 45 a 70 graus. Mas, a paisagem é maravilhosa, montanhas e mais montanhas desenhadas por continuos terraços esverdejantes e suportados por muros de pedras em cada fileira de videiras. É de uma beleza indescritível.
Como existe apenas uma fina camada de terra argilosa, as vinhas são plantadas partindo-se as pedras até a profundidade de um metro, (as vezes é necessário usar dinamites para abrir caminho para as raízes) onde as fissuras no xisto permitem que as raízes cheguem até a 12 metros em busca da água.
A individualidade climática do Douro deve-se à sua localização, sendo grande a influência que exercem as serras do Marão e de Montemuro, servindo como barreira à penetração dos ventos úmidos de oeste. Situada em vales profundos, protegidos por montanhas, a região caracteriza-se por ter invernos muito frios e verões muito quentes e secos.
A elaboração do vinho tinto do Porto é uma arte, é uma tradição, é uma alquimia. E conhecer os vários tipos de vinho do Porto é um exercício de memoria e muita degustação.
Todo o processo de vinificação é diferente e especial, começando pela tradicional pisa, que consiste em 15 homens e mulheres dentro de um lagar (reservatório quadrangular com cerca de 1 metro de altura – até a altura dos joelhos de uma pessoa, revestido de granito espesso) marchando em um só ritimo, delicadamente e conjuntamente entrelaçados, braços-ombros, ao som de uma alegre música. Esta pisagem por humanos permite forte extração de cor, aromas, taninos e sabor. A sensabilidade do pé humano é ideal para esta tarefa custosa…
Devido ao alto custo e a falta de mão de obra, muitas vinícolas estão substituíndo a pisagem por máquinas robotizadas. Estas máquinas são projetadas para simular a pisagem pelos pés. O equipamento consiste em 10 hastes verticais fabricadas de aço inoxidável tendo na parte inferior um disco de aço, imitando pés humanos. Ela entra dentro do lagar e faz a pisagem mecânica por toda a área do lagar.
Os Vinhos do Porto podem ser divididos em duas famílias: Ruby e Tawny.
Dentro de cada família existem vários tipos de vinhos do Porto, a saber:
Família Ruby:
Nesta família, por ordem crescente de qualidade, inserem-se as categorias:
- Ruby (geralmente genérico e mais simples)
- Reserva
- Late Bottled Vintage (LBV)
- Vintage
Família Tawny:
- Tawny (geralmente genérico – mais simples)
- Tawny Reserva
- Tawny com Indicação de Idade (10 anos, 20 anos, 30 anos e 40 anos)
- Colheita
Dentro destas duas famílias cada tipo de Porto apresenta características diferentes entre si, a saber:
Em termos de coloração dos vinhos; os da família Ruby se apresentam com cor tinta vermelha, cor mais viva, tendendo para o violáceo ou cor semelhante à pedra rubí mais ou menos intensa dependendo da sua ordem crescente de qualidade.
Já os da família Tawny apresentam cores em evolução; aloiradas, (Tawny em inglês se traduz por aloirada) ou voltadas para o caramelo ou âmbar. Isto ocorre porque os vinhos desta família são envelhecidos em cascos pequenos de madeira de 550 litros, com alto contato com o oxigênio, o qual modifica a cor do produto.
Em termos de aromas os vinhos do Porto da família Ruby apresentam
aromas frutados com sabores a frutas vermelhas (frutos silvestres ou ameixas) e com características de vinhos jovens.
Já os da família Tawny lembram aromas de frutos secos e ou madeira. E, quanto mais velho é o vinho mais estas características se acentuam.
As diferençãs entre estas duas famílias também se verifica nos tipos de reservatórios onde são feitas as misturas de várias safras de Portos. Os da família Ruby envelhecem em balseiros de grande capacidade (entre 20.000 a 100.000 litros) e os Tawnies envelhecem em pipas de 550 litros.
Os estilo dentro de cada família:
Os Tawny são gerados pela mistura de vários portos Tawny de diferentes safras. Além do Tawny standart (simples), dentro desta categoria existem também os Tawny datados (indicação de idades nos rótulos -10, 20, 30 ou 40 anos), os quais são uma média das safras escolhidas para a mistura do produto final.
Nesta família existe outro tipo (mais raro de encontrar) chamado Porto Colheita. O Colheita é um Tawny proveniente de lotes especiais da mesma safra. Estagia em madeira durante períodos de tempo variáveis, nunca inferiores a sete anos e no rótulo é mencionado o ano da safra. É um estilo de Porto de elevada qualidade proveniente de uma só colheita. Apresenta cores claras, um acastanhado dourado, quase âmbar. O sabor de um colheita é muito semelhante ao de um Tawny 10 ou 20 anos, mas logicamente mais rico e elegante.
Os Portos tipo Vintage são vinhos elaborados com uvas de uma só safra, somente quando esta for de excepcional qualidade. A designação Vintage é a classificação mais alta que pode ser atribuída a um vinho do Porto. Fica dois anos em barricas de carvalho e em seguida engarrafados e lançados no mercado.
O seu potencial de envelhecimento é enorme sendo por isso recomendável a sua guarda por um período nunca inferior a 3 a 4 anos em garrafa. Este vinho deve-se tomar só depois das refeições em pequenas quantidades.
Com o envelhecimento em garrafa torna-se suave e elegante, desaparecendo gradualmente a adstringência inicial. Adquire, por isso, um aroma equilibrado, complexo e muito distinto. Aos Vintage com alguns anos em garrafa estão associados aromas de torrefação (chocolate, cacau, café, caixa de charutos, etc.), aromas de especiarias (canela, pimenta,…).
A responsabilidade do amadurecimento do vinho do Porto Vintage fica por conta do comprador. Portanto, o consumidor deve se orientar para saber quando o vinho estará em sua plenitude para degustá-lo. E quando abrir a garrafa chame os amigos pois ele não suporta ser guardado por mais alguns dias, diferentemente dos outros tipos de Portos. Os Vintage são caríssimos e deve ser reservado para grandes momentos.
L.B.V. (sigla de Late Bottled Vintage) é quase um Vintage, elaborado de safra excelente ou muito boa. Os vinhos do Porto LBV (têm o aspecto de vinhos tintos Ruby (cores vermelho carregado e sabores frutados).
Sua grande diferença quanto ao estilo Vintage é que ele permanece em repouso na madeira por cerca de quatros anos. O L.B.V, diferentemente do Vintage após ser aberto aguenta ser guardado na garrapo por mais algumas semanas.
Os L.B.V envelhecem de quatro a seis anos dentro dos balseiros, e quando saem ao mercado estão prontos para beber, diferentemente dos Portos Vintage. Por isso, as garrafas de LBV são diferentes utilizando a rolha inteira (ou seja, não tem a habitual tampa de plástico no topo, típica de outros Portos). As garrafas de LBV devem ser guardadas deitas para umedecer a rolha.
Os LBV eliminam assim a desvantagem dos Vintages em relação ao tempo de espera antes do consumo, e ainda que não seja um Vintage verdadeiro, possui muitas das suas características, e oferece uma ideia bastante próxima da experiência de beber um Vintage. E, são mais baratos do que os Vintage.
O Vinho do Porto Reserva é elaborado a partir de uvas selecionadas de grande qualidade, e tanto pode ser branco como tinto. Permanecem sete anos em maturação dentro da madeira, e depois são engarrafados. Estes vinhos devem ser tratados da mesma forma que os Portos “standard”, isto é, não envelhecem dentro da garrafa (por isso, esta deve ser mantida sempre na vertical) e após a sua abertura podem ser consumidos num prazo não superior a seis meses. O Reserva existe nas duas famílias: Reserva Ruby e Reserva Tawny.
Crusted: É uma mistura de bons vinhos de várias vintages, engarrafado depois de cerca de três anos na madeira. É uma das melhores alternativas ao verdadeiro vintage e forma um sedimento (ou crosta) na garrafa, precisando ser decantado.