Na última postagem escrevi sobre o “terroir” do Uruguai, comentei sobre seus vinhos, especialmente aqueles elaborados com a uva Tannat. Hoje resolvi falar um pouco sobre o que é uma uva emblemática de um determinado país.
Uva emblemática é aquela que fora do seu berço de origem se adaptou tão bem quanto ou até melhor do que no país de origem. São centenas de uvas europeias que percorreram o mundo nos navios dos conquistadores do novo mundo. Algumas delas tornaram o “carro chefe” da viticultura de seu país e através de excelente estratégia de “marketing”, alavancaram as exportações de vinhos, colocando seu respectivo país no cenário do mercado internacional.
São vários casos… A Tannat, do sudoeste da França é um belo exemplo que encontrou no Uruguai seu habitat, gerando vinhos tânicos e estruturados que colocou este país no mercado internacional. No Brasil também bons Tannats estão surgindo, logicamente diferente em estilo do vizinho e da França, pais de origem.
A Argentina conquistou o mundo, especialmente o mercado importador dos Estados Unidos, Inglaterra e Brasil com seus fantásticos vinhos tintos elaborado com a Malbec, uva tinta emblemática deste país. Uma uva branca, a Torrontés, de Salta, norte da Argentina, está também começando a dar seus primeiros passos no mercado internacional.
No Chile, a uva emblemática é a Carmènére, com história curiosa, que os jornalistas especialistas em vinhos aproveitam o gancho para propagar esta caprichosa uva e seus vinhos. O Chile é o único país, exceto pequena região da França, que esta produzindo vinhos com essa uva. Antigamente ela era vastamente plantada, em Bordeaux, mas foi dizimada pela filoxera, praga que assolou vários países.
A uva emblemática dos Estados Unidos é a Zinfandel, conhecida como Primitivo, no sul da Itália. Ela encontrou seu berço no coração da Califórnia, onde gera vinhos desde aos mais simples aos mais sofisticados.
A Pinotage, uva híbrida a partir da Pinot Noir com a Cinsault, duas uvas clássicas francesas, foi desenvolvida em laboratório e tornou-se emblemática da África do Sul, tanto para vinhos varietais como para vinhos em corte com outras francesas (Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc), chamado localmente de “Cape Blend”.
Uma das mais importantes uvas brancas do mundo, fora do Loire e sul de Bordeaux, encontrou seu habitat na Nova Zelândia, que apresenta ao mundo excepcionais vinhos Sauvignon Blanc. Esta uva colocou o pais do Kiwi no contexto mundial.
Na vizinha e quente Austrália, a uva tinta do Rhône, França, com grafia Syrah, adaptou-se extraordinariamente no país dos gangurus, alterando sua grafia para Shiraz, base do Penfolds, considerado um dos melhores tintos do mundo.
A Tempranillo tornou-se a principal variedade tinta da Espanha, especialmente nas regiões de Rioja, onde gera vinhos varietais espetaculares ou mesmo em corte com a Garnacha. Dentro da própria Espanha – sua terra natal – ela tem sinônimos: Tinto Fino e Tinta del País em Ribera del Duero, Ull de Llebre em Penedés, Cencibel em Valdepeñas, Tinto de Toro em Toro. Em Portugal ela é conhecida como Tinta Roriz.