A vinícola Estate Argyros se localiza na ilha de Santorini, Grécia, em um “terroir” agressivo, de solo vulcânico, onde quase nunca chove. O calor é intenso refrescado pelos fortes ventos que forçaram as videiras a se adaptarem ao local para se sobreviverem. Para se protegerem dos ventos os viticultores da ilha aplicam a técnica de “pruning” que consiste em realizar podas e cortes de partes da planta durante sua fase de crescimento, mantendo-a baixa, quase rente ao solo, (diferentemente dos outros sistemas de condução da planta por espaldeira, que utilizam arames para sustentar a planta). Com isto, elas rastejam no chão, formando uma espécie de cesta. Assim, os cachos de uvas quase atingem o solo pedregoso e arenoso oriundo das lavas e cinzas das inúmeras erupções que ocorreram a milhares de anos e se protegem dos fortes ventos que assolam a parte mais alta da ilha. Além, os viticultores constroem muros de pedras vulcânicas cercando o vinhedo na tentativa de proteger ainda mais dos ventos.
Outro fator interessante é que a praga filoxera que dizimou os vinhedos de todo o mundo, não atingiu está região. Portanto, não houve a necessidade de fazer enxertos e replantar as plantas, como feito em todas as partes do mundo, mantendo suas parreiras centenárias, em média com 350 a 500 anos, em Santorino. Em virtude disto, o rendimento de kg de uvas por hectare é muito baixo (350 kg por 1000 metros quadrados) que aporta excelente qualidade às uvas. O solo vulcânico aporta aos vinhos brancos uma excepcional mineralidade, tornando-os diferentes de muitas partes do mundo. Sua proximidade ao mar gera aos vinhos uma interessante salinidade e os constantes ventos mantêm o frescor e a acidez.
São 35 hectares de vinhedos plantados com as uvas brancas autóctonas da ilha: Assyrtiko é a principal casta branca plantada (80% da área) cuja principal característica é aportar um caráter metálico aos vinhos. As outra casta branca mais cultivadas é a Aidani utilizada em corte com a Assyrtiko para aportar ao vinhos mais aromas. E a casta branca Athini aparece em menor quantidade nos vinhedos de Santorini. As tintas plantadas são a Mavrotragano e Mandilaria, com tendência para gerar vinhos tintos sem muita estrutura.
Além dos vinhos brancos com destaque para os elaborados com a Assyrtiko a ilha produz vinho Santo. Conversando com o viticultor Stefanos Gergas ele comentou que a origem do Vinho Santo não é italiana, mas sim de Santorino. Ele explicou que os venezianos quando dominaram a ilha conheceram o Vinho Santo, na época conhecido como Vinho Santa Irini (nome de uma igreja da cidade de Thira, capital de Santorino). Com o passar do tempo a língua falada ajuntou o nome e passou a ser conhecido como Vino Santo. Então, os venezianos levaram a técnica da vinificação e com a influência romana e seu marketing divulgaram ao mundo como sendo de origem italiana.
Histórias e lendas são comuns neste mundo do vinho. A seguir apresento texto da enóloga, italiana, Adriana Grasso sobre a origem e fica por conta do leitor sua interpretação:
“Existem vária hipóteses a respeito da origem deste vinho. Uma se refere a um frade que distribuía aos doentes vinho (vin santo) com efeitos terapêuticos positivos. O vinho em questão ficou conhecido como Vin Santo pelo poder de cura. Outra hipótese está relacionada ao ciclo de produção do vinho com o calendário de festas religiosas: o início da fermentação com o Dia de Todos os Santos e o final com o Natal.
Há relatos sobre a produção do Vin Santo nos tratados da Vinicultura dos anos 700 d.c. na região da Toscana, mas a Literatura Italiana explorou bastante o tema no século XVIII quando apareceram publicações sobre as maneiras de produzir Vin Santo, orientando somente a utilização de uvas brancas: Trebbiano e Malvasia do Chianti”.
Polêmicas a parte estando em Santorini não deixe de degustar o Vinho Santo que é diferente dos elaborados na Toscana. Em Santorini as castas utilizadas são a uva branca indígena da ilha, a interessante Assyrtiko.
Degustação na Estate Argyros:
01: Argyros Aidani 2012
Este branco elaborado com a uva originária da ilha de Santorini se apresentou de cor amarelo claro. Viscosidade média. No nariz, intensidade aromática média de frutas cítricas. Na boca, de corpo médio, ótima acidez e mineralidade. Retrogosto médio. Muito bom. 89 pontos.
02: Atlantis 2012
Um branco em corte de 90% de Assyrtiko, 5% de Aidani e 5% de Athini, de cor palha. Aromas de excelente qualidade de frutas cítricas, sobressaindo o limão. Na boca, grande ataque com uma salinidade interessante, ótima mineralidade. Retrogosto longo. Excelente. 90 pontos.
03: Santorini Argyros 2012
Com 100% da uv, a branca mais plantada na ilha, a Assyrtiko, oriundo de vinhedos com idade entre 60 a 80 anos mostrou um nariz expressivo, complexo de pedra de isqueiro. Na boca a mesma mineralidade presente, ótimo ataque agulhado. Complexo. Equilíbrio perfeito entre a acidez e o álcool. Retrogosto longo. Excelente. 92 pontos.
04: Estate Assyrtiko
Este vinho foi elaborado com uvas de parreiras com idade entre 150 a 300 anos se apresentou de cor palha. Viscoso. Nariz intenso, fino e elegante de frutas cítricas, com delicado aroma de limão. A excepcional acidez enche a boca em um conjunto equilibrado, complexo, mineral. Retrogosto longo. Excelente. 94 pontos.
05: Kthma Aptpov 2011
Este branco com a Assyrtiko foi fermentado em barris grandes (os outros acima foram fermentados em reservatórios de aço inoxidável). Esta passagem por barricas lhe aporta uma cor mais amarelada e um estilo diferente de nariz, puxando para um amanteigado lembrando um Chablis Grand Cru. Na boca, macio, amanteigado, complexo, equilibrado e com uma excepcional mineralidade. Retrogosto longo. Excepcional. 96 pontos.
06: Atlantis Rosé
Elaborado com 80% de Assyrtiko e 20% com a tinta Mandelaria.
De cor rosa. Viscosidade média. Aromas florados mas fortemente adocicado que tira seu frescor. Vinho simples, para o dia a dia. Na boca deixa a desejar, sem frescor. Para começar o dia na praia de Santorino. Razoável. 76 pontos. Não é o estilo de Rosé que gosto.
07: Estate Argyros Mavrotragano 2010
Um tinto com a casta Mavrotragano de cor granada. Viscosidade baixa. No nariz, aromas doces de cereja. Na boca, de corpo leve. Taninos verdes, que o compromete. Falta presença e corpo. Retrogosto curto. Razoável. 79 pontos.
08: Vin Santo 4 Years Barrel
Um vinho de sobremesa de cor ocre. Grande viscosidade. Aromas intensos de figos, de excepcional qualidade. Na boca, equilibrada doçura junto com a acidez bem posicionada e o álcool. Macio, aveludado, complexo. Retrogosto longo. Excelente. 90 pontos.
09: Vin Santo 12 Years Barrel 1998
De cor ocre. Alta viscosidade. Aromas intensos de doce de casca de laranja de excepcional qualidade. Na boca, macio, aveludado, de grande corpo, complexo. Retrogosto longo rementendo a figos maduros e mel. Excepcional. 96 pontos.
10: Vin Santo 20 Years Barrel 1990
De cor ocre. Cremoso, quase um azeite. Nariz intenso de mel de excepcional qualidade. Na boca, maravilhoso, macio, complexo. Um vinho para ocasiões especiais, que for harmonizado com um chocolate. Excepcional. 97 pontos.