Partimos de Bariloche, para Neuquén, porta entrada da região vinícola patagônica. A estrada é asfaltada, com vistas espetaculares, entrecortadas de montanhas onde corre o belo rio Limay que vai encontrar com o rio Neúquen, formando o Rio Negro, que alimentam de água os áridos vinhedos.
A região vinícola divide-se em duas: Neúquen, (sentido da cidade de Añelos) e Rio Negro, indo sentido a cidade de Bahia Blanca.Na região vinicola de Neuquén a produção de vinhos está concentrada nos arredores de San Patricio del Chañar (60 km de Neuquén), e até próximo a cidade de Añelo.
A primeira vinicola visitada foi a Noemía:
Seguimos rumo à cidade General Roca. Estrada movimentada, linda, entrecortada de Alámos, infinitas plantações de maças, peras e ameixas. Após cerca de 70 km, ficamos perdidos. Nenhuma placa indicativa com o nome da vinícola. No meu mapa, rascunhado e preparado com muita antecedência, estava escrito; Valle Azul. Surgiu esta placa. Avançamos e nada. O asfalto passou de bom para rípio, (terra com enormes pedras cinzas). As paisagens de Alámos e frutas ficaram para trás. Depois de percorrer caminhos de pedras, paisagem desértica, agressiva, comentamos: Vamos desistir, não é possível que em um terreno deste exista videiras plantadas? Mais uma chance, e andamos mais. Até que um policial nos explicou. A vinícola fica entre aquelas casas de telhado verde. Fomos até ela, ninguém presente. Voltamos. Perguntamos a uma alma penada. Ele deu a mesma informação. Voltamos. Nada, ninguém. Mas desta vez avistamos outra casa de telhado verde, mais acima. Entre caminhos de pedras, surgiu um vinhedo, sinalizando que finalmente encontramos a vinícola ícone da Patagônia. Estranho, nenhuma placa pelo caminho indicando Bodega Noémia. Muito menos quando chegamos à vinicola. Nenhuma placa. Suspense – depois da visita entendemos o motivo. Calma. Já explicaremos. Esta vinícola não recebe turistas, raramente críticos de vinhos e ou jornalistas. Mas, o nosso motorhome todo decorado com a marca Wine World Adventure abre portas em qualquer situação. Após explicar o nosso projeto, as portas se abriram. Então fomos dignamente recebidos pelo Gerente Oscar Ruben Ferrati.
Entramos dentro da pequena casa de telhado verde. Muito pequena para receber todos os equipamentos de vinificação, foi a primeira impressão. Mas lá dentro, certificamos que esta vinícola tem a produção de somente 50.000 garrafas. Uma vinicola de “boutique”ou de “garagem”. Os tanques de fermentação, ou melhor, os minis-tanques de fermentação são de concreto e com capacidade para receber somente 2500 kg. Além, a vinícola adota processo biodinâmico e orgânico e a fermentação é espontânea sem a utilização de leveduras industrializadas. Elas surgem na fruta e no ambiente da cantina. Logicamente, os cuidados e o tempo de fermentação são mais longos, podendo às vezes até mesmo vir a não ocorrer. Neste caso o processo é interrompido, perdendo assim aquele lote. É o risco para quando se deseja obter um vinho com característica de tipicidade. Como os tanques de fermentação são pequenos não é utilizado o processo de remontagem utilizando bombas mecânicas. (remontagem -intercâmbio do mosto localizado na parte inferior do reservatório de fermentação com o “chapéu”- parte superior do mosto- uva flutuando).
Além, os outros equipamentos são pequenos, caixas de 10 kg de transporte de uvas ao invés da tradicional caixa de 20 kg. As mesas de separação manual das bagas também são pequenas, pois recebem pouca uva por dia de dois vinhedos. Um vinhedo de 4,7 hectares, (Merlot, Malbec e Petit Verdot), localizado ao lado da casa de telhado verde, destinada a fazer o vinho no3 da vinicola, de rótulo; A Lisa. Os outros dois rótulos, o vinho no2, J. Alberto e o top desta vinicola o ícone Moémia (nome da proprietária – condessa italiana Noemi Marone Cinzano) são elaborados com a casta Malbec do vinhedo antigo, (1,5 hectáres de 1932) que foi recuperado, com videiras centenárias (pé-franco: sem enxertia, pois nesta região não ocorreu o famoso ataque da praga filoxera que dizimou os vinhedos de todo o mundo vitícola).
Degustação de vinhos de Noemía:
Vinho no1: A Lisa 2010 – US$30
Um Malbec com 9% de Merlot e1% de Peti Verdot. De cor violeta, profunda, brilhante e lágrimas rosadas, (ótima viscosidade). No nariz intensidade aromática média, mas de aromas de qualidade. Na boca; elegante, macio, suave, bem equilibrado entre a madeira de carvalho de terceiro uso e a fruta. Retrogosto médio. Passou um ano no carvalho de terceiro e quarto uso e 50% em tanque inoxidável. É o vinho de “cavalo de batalha” da vinicola.Muito bom, noto 89.
Vinho n02 : J. Alberto 2008 – Malbec
J de Juan, (primo do outro sócio, o enólogo dinarmaquês Hans Kinding Diers) e Alberto do seu pai.
Visual: Violeta escuro, brilhante apesar dos três anos de vida, sem ainda mostrar qualquer sinal de evolução. Um vinho para ainda muitos anos de vida. Lágrimas intensas, vermelhas, mostrando muito extrato e corpo. No nariz, complexo, mostrando forte intensidade aromática de frutas vermelhas bem maduras. Macio, aveludado, taninos domados e maduros. Retrogosto longo. Um vinho especial, excelente.Nota 90
Vinho n03 : Noémia 2009 – Malbec
Estávamos ansiosos para degustar este ícone, considerado um dos melhores Malbecs da Argentina.
Visual: Violeta escuro, opaco. No nariz uma explosão de compota de ameixa. Na boca um vinho para mastigar. A cada giro do vinho na taça nova explosão de aromas de frutas vermelhas. Um vinho de alta complexidade. Um vinho para tomar de joelhos. Um vinho que representa a filosofia desta pequena vinicola de mostrar a tipicidade da Patagônia. Excepcional, nota próxima de 95
Como curiosidade todos os vinhos desta vinícola não são filtrados, o que aumenta sua complexidade.
1 Comentário. Deixe novo
… esse Peracinho não é fácil não !!!