Depois de conhecer a cidade de Pamplona partimos para nosso principal objetivo na Espanha: Visitar as “bodegas” (vinícolas) de Rioja.
A Espanha é o segundo país vinicultor mais antigo da Europa Ocidental, e seus vinhos atuais estão entre os mais modernos. Apresenta uma indústria vitivinícola dinâmica e moderna. São mais de 10.000 vinícolas e 60 zonas de “Denominación de Origén”, (DO) e somente duas “Denominación de Origén Controlada” (DOC), Rioja e Priorato.
Curiosamente, a Espanha possui a maior área de vinhedos do mundo, entretanto está colocado como terceiro maior produtor de vinhos. Isto pode ser explicado porque a maioria de suas terras é seca e as parreiras apresentam baixa produtividade. Além disso, em muitas regiões vinícolas da Espanha as videiras são plantadas como arbustos (sistema de condução chamado de Envaso) que exigem um espaço maior entre cada planta, diferentemente do sistema de condução da videira em espaldeira.
A imagem há cerca de 20 anos era de que a Espanha produzia vinhos com gosto de carvalho, entretanto ela sofreu uma grande transformação, buscando maior qualidade e muitos de seus vinhos recebem aplausos da crítica especializada internacional. O “status” atual é a indefinição entre os “bodegueiros” de que estilo seguir; manter o sistema clássico, tradicional de muito tempo de barrica com vinhos mostrando muita madeira ou do estilo moderno com a fruta se posicionando frente à madeira. Muitos viticultores introduziram a categoria Vino de Autor para fugir da exigências de tempo de passagem do vinho em barricas e estágio na garrafa de 2 anos para os vinhos Crianza, 3 para os Reservas e 5 para os Grand Reserva.
A supremacia em Rioja é de vinhos tintos, poucos brancos. No mercado interno da Espanha os bons, muito bons e os excelentes vinhos são uma “pechincha”. Encontramos vinhos de excelente qualidade a preços de 5 Euros. De todos os países que visitamos durante os 13 primeiros meses de viagem a Espanha é que apresentou melhor relação custo-qualidade.
As regiões vinícolas da Espanha são:
Região Noroeste
• Galícia
• Castilla y León
Região Nordeste
• Rioja
• Navarra
• Aragón
• Catalunha
• Priorat
• Montsant
• Coster del Segre
• Baleares
Região Centro
• Castilla-La Mancha
• Madri & Estremadura
• Valencia & Murcia
Região Sul
• Andaluzia
Região das Ilhas
• Ilhas Atlânticas
• Ilhas Mediterrâneas
Rioja é a principal região vinícola da Espanha e sua produção é predominantemente de vinhos tintos. Seu nome deriva de “Rio Ojas”, um pequeno afluente do rio Ebro. Seus vinhedos se estendem no Vale do rio Ebro entre as cidades de Logroño e Haro, perfazendo cerca de 100 km de comprimento e 40 km de largura. Os vinhedos estão espalhados em torno das pequenas e medievais cidades de Laguardia, Elciego, Fuenmayor, Cenícero e Briones, plantados em altitudes que variam de 300 metros acima do nível do mar em Alfaro, a leste, até 800 metros nas encostas da Serra de Cantábria a noroeste.
Esta região faz fronteira ao norte com a Sierra Cantabria (que protege os vinhedos dos fortes ventos do Atlântico, que castigam impiedosamente a costa basca ao norte). Ao sul, a Sierra de la Demanda completa a proteção, criando um micro-clima espetacular com dias cálidos e noites frias, propício ao amadurecimento lento e completo das uvas. Rioja raramente experimenta os extremos de temperatura que oprimem os produtores das regiões sul e central da Espanha.
Rioja divide-se em três zonas distintas ao longo do eixo do rio Ebro:
a) A Rioja Alta ocupa a parte do Vale do Ebro a oeste de Logroño, incluindo a cidade vinícola de Haro, onde concentram os melhores produtores, com clima um pouco mais quente do que as outras duas áreas descritas abaixo, gerando vinhos de qualidade superior, finos e elegantes.
b) Rioja Alavesa é o nome dado à seção ao norte do rio Ebro, que se estende até a província basca de Álava (País Basco), com clima um pouco mais frio, gerando vinhos mais frutados e menos encorpados do que Rioja Alta.
c) Rioja Baja, que se estende desde os subúrbios de Logroño ao sul e ao leste, incluindo as cidades de Calahorra e Alfaro. Seu clima é mais seco do que as demais apresentando vinhos com teor alcóolico mais elevado. Desta zona também surgem vinhos tipo o “Beaujolais” da Borgonha, elaborados a partir de maceração carbônica. A tinta mais plantada nesta zona é a Garnacha.
Rioja é a terra de vinho tinto elaborados com as uvas Tempranillo, que geram vinhos varietais espetaculares ou em cortes (assemblage) com as tintas Garnacha, Mazuelo (Cariñena) e Graciano.
A Garnacha entra na composição para aportar teor alcoólico. A Mazuelo é rica em taninos e ajuda na longevidade. A uva Graciano entra no corte para aportar a acidez que falta na Tempranillo. É a companheira ideal para a Tempranillo. Além dos vinhos “em corte” ou “assemblage” existem vinhos mono-varietais com estas quatro castas tintas. Degustei um tinto varietal elaborado com a casta tinta Maturana, pouco difundida no mercado e estava espetacular.
A casta branca mais plantada é a Viúra, também conhecida como Macabeo, gerando vinhos de boa estrutura quando passado no carvalho. Mas, Rioja é terra de tintos…
Obs: Em alguns vinhedos de La Rioja é permitido online casino a plantação de pequenas áreas de Cabernet Sauvignon como “experimental” e são, teoricamente, confinadas por lei. Entretanto, não pode ser inscrito a palavra Cabernet Sauvignon no rótulo e entram em pequeno percentual na composição dos vinhos “assemblage”.
Os vinhos de Rioja costumam apresentar aromas frutados e de baunilha, marcado pela presença de carvalho americano, bem como de aromas complexos oriundo de barris franceses.
A tendência atual é de utilizar duas procedências de barris, o americano e o francês, gerando vinhos complexos, aproveitando as qualidades e características de cada tipo de barril e suas influências no vinho. Algumas vinícolas estão incluindo mais uma terceira opção: o carvalho russo e húngaro.
Rioja foi à primeira região espanhola a adotar as classificações “Crianza”, “Reserva” e “Gran Reserva”, atualmente adotada na maioria das regiões espanholas, sendo que em Rioja é obrigatório por lei. Quase todas as outras regiões estão seguindo esta linha. Em Rioja o Conselho Regulador da região atua fortemente fiscalizando todas as vinícolas, controlando a produção, rendimentos, processos de vinificação, níveis de categorias, etc. As regras e as multas são pesadas para quem não as cumprem. E, isto é muito bom. Regulamenta o setor em termos de qualidade e defende o consumidor informando-o com exatidão o tempo de passagem do vinho pelas barricas de carvalho e tempo de estagio na garrafa. A grande vantagem desta fiscalização é que o consumidor pode confiar nos termos inseridos nos rótulos (Crianza, Reserva e Gran Reserva) diferentemente dos países da América do Sul.
Para os vinhos tintos de Rioja as regulamentações quanto ao tempo de mínimo de estágio dos vinhos no barril (maturação) e na garrafa (envelhecimento) são:
“Vino Joven ou Sin Crianza”: quando esta palavra está inserida no rótulo da garrafa significa que é um vinho que pode ou não ter passado em barricas de carvalho. Se passou em barrica, geralmente foi por período pequeno, (menos de um ano). São vinhos mais simples, sem grande complexidade. Para degustar em taças nos bares espanhóis. Mas, atenção: muitas surpresas boas podem aparecer nesta faixa de vinhos e a preços extremamente baixo (2 a 5 Euros).
“Vino Crianza”: tem que permanecer dois anos no mínimo na vinícola, (6 meses a 1 ano em barris e um ano na garrafa). Nesta categoria começa a surgir os bons e ótimos vinhos espanhóis, com toques de madeira, até mesmo certa complexidade, dependendo logicamente de cada vinicola. Sua faixa de preço é convidativa onde a qualidade está presente. Excelente preço-qualidade. Se bem acondicionado estes vinhos aguentam mais 6 anos de guarda.
“Vino Reserva”: mínimo de 3 anos para sair ao mercado, (1 ano nos barris de carvalho e 2 anos adormecendo nas garrafas), antes da comercialização. Aqui começa a diferenciação e surgem os grandes vinhos de Rioja.
“Grand Reserva”: mínimo 5 anos na vinícola ( 2 nos barris de carvalho e 3 nas garrafas). Geralmente, são produzidos em safras excelentes.
Há também uma outra variação criada em 2003, intitulada: “Denominación Vino de Pago”, utilizadas por algumas vinícolas que querem apresentar vinhos com tipicidade, mostrando todas as características de seu micro-terroir. Quando está escrito no rótulo o termo “Pago” significa que os vinhedos são próprios, colheita a mão e vinificados e engarrafados na propriedade (mesma filosofia dos Châteaux de Bordeaux ou Domaines de Borgonha).
Algumas bodegas também lançam os chamados “Vinos de Autor”, os fora da lei. São verdadeiras obras de arte, modernos e que não seguem as determinações acima de estágio em barris e nas garrafas. Isto fica a critério do enólogo. Mas as outras exigências do órgão controlador de Rioja são seguidas a risca. São vinhos especiais e atingem preços elevados.