

Partimos de Montevideo pela Ruta 5 e após 30 km pegamos a Ruta 62 rumo a Santa Lucía na região de Canelones para visitar a histórica e tradicional vinícola Casa Filgueira que no ano passado foi comprada pela familia Niquini, de Belo Horizonte.
A vinícola foi fundada em 1927 e focava em vinhos de mesa. Porém, em 1988 houve reconversão dos vinhedos passando a elaborar somente vinhos finos. A partir do ano 2000 começaram a trabalhar com baixo rendimento, entre 12 a 15 toneladas por hectare. O desafio abraçado pela familia Niquini, começou nas plantações de novos vinhedos, compras de barricas francesas, rotulagem e nova estratégia de marketing. Castas brancas plantadas: Chardonnay e Sauvignon Gris. Tintas: Tannat, Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Syrah e Pinot Noir.
Começamos a visita percorrendo os belos vinhedos próprios, espalhados por 29,6 hectares, que utilizam os sistemas de espaldeira e lira para condução das plantas. Após conhecermos as instalações, degustamos alguns vinhos da casa harmonizados com um delicioso almoço típico uruguaio: “el asado”.

Sebastian, Natália, Horácio e enóloga da casa.

Pedro recebendo um "regalo" de Sebastian

Sebastian recebendo um "regalo" (cachaça mineira) da equipe WWA.
Pernoitamos na vinícola vigiados por dois preguiçosos cães de guarda e no dia seguinte tomamos café da manhå debaixo dos parrerais.
A produção de vinhos anual é torno de 180.000 litros, com forte presença no mercado do Uruguai e exportações para Eslováquia, Polônia, Alemanha, Dinamarca, Espanha, Inglaterra, França, Canadá, Estados Unidos, México e Brasil. Em outubro, na região de Canelones ocorre a semana “del património” quando os estabelecimentos históricos abrem as portas para visitação. A bodega Filgueira está inserida neste contexto, chegando a receber 800 pessoas, com degustação “free”.
Degustação
01: Sauvignon Gris – 2011 – Linha Clássica – R$15,00 Poucas vinícolas do Uruguai plantam esta casta. E na Filgueira ela mostra todo seu potencial. Este vinho não passou pela barrica de carvalho, mostrando cor amarela de intensidade média. No nariz forte intensidade aromática, remetendo a aromas de frutas maduras, damasco. Na boca, bom ataque, mineralidade, corpo médio, acidez e frescor. Retrogosto médio. Um vinho branco, jovial, fresco, para as praias do Brasil. Excepcional custo benefício. Este vinho tem potencial para obter sucesso comercial no Brasil. Um vinho alegre como os tupiniquins para harmonizar com peixes leves.
02: Sauvignon Gris – 2009- Reserva – R$24,00 Amarelo dourado, mostrando que passou pelo carvalho. Aromas de frutos secos, amêndoas. Com incríveis 14,5% de álcool, equilíbrio perfeito entre o alto percentual de álcool e a acidez. Na boca; bom ataque, encorpado, retrogosto longo. Um estilo diferente do anterior que harmoniza com camarão ou lagosta.
03: Corte de Tannat e Cabernet Franc 2011 – R$14,50 A presença do Cabernet Franc neste corte tem a finalidade de gerar mais aroma e presença de cor, deixando para a Tannat a textura. A proposta deste vinho é jovial, não passando por barricas. De corpo médio . Ainda está muito jovem para se beber, com taninos ainda agressivos. Tem que esperar mais dois anos para domá-los. Vinho para o dia a dia. Excelente custo benefício.
04: Tannat 2011 – R$14,50 Cor violeta, brilhante, bom corpo, lagrimas presentes, boa densidade. No nariz ainda fechado não mostrou intensidade aromática. O detalhe é que não passa por barrica e para domar rapidamente os taninos é utilizado da prática de micro-oxigenação. Novamente excelente custo- qualidade.
05: Pinot Noir 2011 – R$20,00 Casta da Borgonha, que fora dela é de difícil adaptação. Não muito comum no Uruguai, este Pinot Noir de Filgueira surpreende pela sua cor, escura e de alta intensidade. Diferentemente da elegância de Borgonha, este Pinot Noir mostra potência e corpo, com seus 14% de álcool. Adorei este vinho e a proposta da enóloga Melissa.
06: Propium Tannat 2011 – R$20,00 A palavra latina Propium entra no rótulo para dizer que a Casa Filgueira tem seus próprios vinhedos. De cor violeta, com boa intensidade aromática. Na boca taninos ainda para serem domados, ainda está muito novo para ser consumido. Mostra potencial.
07: Cabernet Sauvignon 2002 – R$ 20,00 Este vinho não passa por barricas e sua cor atijolada mostra os seus 10 anos. Ainda está vivo, porém seus taninos tem certo toque herbáceo. Parece que é uma característica desta casta na região de Canelones, onde ela não se adapta muito bem, não atinge sua maturidade total.
08:Tannat 2009 – Reserva – R$24,00 Novamente como o Uruguai consegue fazer vinhos a este preço, ainda mais considerando um reserva. É um desafio para os preços estratosféricos praticados no Brasil. Cor negra, profunda, opaca. Aromas intensos de marmelada (uma compota – geleia), que passa rapidamente para ameixas maduras. Aromas doces e intensos que passam por cravo da Índia. Na boca ele se apresentou fechado, talvez pela temperatura fria que foi servido. Excepcional custo – qualidade.
09: Super Premium Estirpe 2007 A palavra estirpe pode ser apresentada como um “sangue azul”, termo de distinção, em busca de um ícone. Este corte de Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Syrah harmonizou muito bem com o almoço oferecido, com o prato principal – Assado Uruguay.
3 Comentários. Deixe novo
Casa Filgueira, um dos melhores estágios em Viticultura e Enologia que já fiz. Saudades da vinícola e de toda a equipe, e claro, da Any e do Nacho (os Mastiffs que “cuidam” da bodega). Grandes momentos!
Boa viagem, turma!
Silvana.
P.S: O Sauvignon Gris e o Tannat 2009 ajudei a fazer!
Viagem maravilhosa, que de alguma forma nos leva junto…Tenho seguido os viajantes, e curtido com eles o passeio enológico. O Horácio, sempre trabalhando (isso é trabalho?) para nos brindar com novidades no mundo dos vinhos. Parabéns! continuarei seguindo seus passos.